Vi hj um vídeo daquele rapaz que afirma que preço não importa porque a precificação feita pelo mercado é perfeita (como se todos no mercado tivessem os mesmos objetivos). Desta vez ele resolveu provar que não fazer aportes mensais, esperando baixas, não funciona. Para provar sua tese, ele usou um estudo sobre Buy the Dip (https://ofdollarsanddata.com/even-god-couldnt-beat-dollar-cost-averaging). Como pode parecer que sou adepto desta última estratégia, vai aqui minhas considerações:
1 – O problema fundamental da tese do rapaz: não se está considerando valor ou precificação. O Buy the Dip (BD) do artigo é baseado numa análise ultra-simplista dos gráficos, sem qualquer consideração por precificação (bem, mas a precificação pelo mercado é perfeita). Não importa se o ativo está descontado ou não, basta uma queda APÓS UM TOPO HISTÓRICO (ou seja, se fosse o Ibovespa desinflacionado, não haveria investimentos desde 2008);
2 – O artigo se restringe ao S&P 500, ou seja, o investidor está preso a um único ativo. Na vida real, os investidores devem decidir sobre centenas de ativos. Sempre há algum ativo cujo preço é atrativo (descontado). Não existe a obrigação de sempre se investir no mesmo ativo mensalmente;
3 - Não existe a possibilidade de venda.(lógico, não se considera valor);
4 – No seu erro mais crasso, o artigo considera que o dinheiro não investido no SP500 ficará parado. Por exemplo, na simulação, o investidor fica 9 anos com os recursos debaixo do colchão. Ora, neste mesmo período os bonds renderam mais de 20%. No Brasil, investindo em títulos públicos, o ganho, considerando apenas os juros, sem a correção, seria superior a 50%. Então, no período analisado, onde o BD superou levemente os aportes mensais, faltou considerar os ganhos obtidos com juros. Além disso, as taxas de juros geralmente são mais altas exatamente nos períodos de topo das ações.
Então, a argumentação parece até boa, mas não resiste uma análise mais profunda. Aportes mensais são importantes apenas para investidores iniciantes. R$ 1000 mensais é importante para quem tem R$ R$ 10.000 investidos, mas é insignificante para quem tem R$ 1 milhão. Aportes só fazem diferença se forem feitos com inteligencia. Existem vários agentes precificando de forma diferente cada ativo. Cada um pode fazer uma precificação perfeita, mas o somatória destas será uma precificação imperfeita (por causa de premissas e objetivos diferentes), que pode ser aproveitada pelo investidor.